Perplexity Labs: quando a busca vira construção — mapas mentais, apps e dashboards em 10 minutos
- Chip Spark

- 10 de out.
- 5 min de leitura
Testei o Perplexity Labs: ele pesquisa, cita fontes e ainda constrói apps, mapas mentais e dashboards dentro da resposta.
Começou como toda pesquisa urgente: uma pergunta simples, uma aba aberta e um deadline sussurrando no meu ouvido. Eu queria um checklist de risco para iniciantes em investimentos. Em outras épocas, eu teria caçado planilhas em blogs, cruzado guias de bancos e improvisado em cima de uma planilha velha. Mas, naquela manhã, decidi apertar a lâmpada do Perplexity Labs — literalmente — e assistir o que acontecia quando a busca deixava de “responder” e passava a “construir”.

O primeiro passo foi quase banal: digitei o pedido com clareza e escolhi o Labs em vez do Search. A promessa era ousada: em cerca de dez minutos, a IA não só pesquisaria as fontes como também criaria um aplicativo funcional. Os minutos seguintes foram uma janela para a oficina interna da máquina: etapas listadas, fontes sendo varridas, progresso avançando como um cronômetro de cozinha. Quando o botão “Aplicativo” apareceu, cliquei sem cerimônia e lá estava: um questionário clicável para determinar perfil de investidor, uma visualização interativa com alocação sugerida e uma trilha de raciocínio legível. Não era uma imagem estática fingindo ser app — os botões funcionavam, o gráfico reagia ao mouse e o “ver resultado” levava a uma síntese coerente.
Animado, arrisquei uma provocação criativa. Pedi um mood board para uma marca de cosméticos jovem e divertida, com paleta, tipografia, estilo de imagens, referências de composição e sugestões de ícones e emojis — mais um guia de como aplicar tudo em carrosséis e Reels. O Labs pensou, buscou dezenas de referências e, no final, despejou uma página que parecia o rascunho de uma boa agência: cores justificadas por psicologia básica, fontes com combinações harmônicas, duas imagens-modelo para inspirar direção de arte e, de quebra, um mini-tutorial de como transformar aquilo em posts eficientes. O bônus discreto ficava nos “ativos”: dava para baixar imagens geradas, navegar nas referências e continuar dali, sem recomeçar do zero.

Foi então que resolvi descer do design para processo. “Crie um onboarding de clientes para uma consultoria de IA em cinco etapas claras”, escrevi, “com entregáveis, templates de e-mail e ferramentas recomendadas de automação”. O resultado veio em uma tabela organizada, com um pré-onboarding que muita gente esquece, roteiro de call de boas-vindas, checklist de diagnóstico, MVP com escopo mínimo e um módulo de treinamento documentado. Não era o plano definitivo da minha empresa — e nem deveria —, mas era um excelente primeiro rascunho, pronto para virar um documento vivo, com a pilha de ferramentas mapeada (CRM, e-mail, comunicação interna) e exemplos de mensagens que poupam tempo de quem está sozinho no operacional.
Empolgado, pedi o tipo de coisa que separa um relatório simpático de uma decisão de negócio: “liste 10 concorrentes no nicho fitness no Brasil, com oferta principal, faixa de preço, canais de marketing, pontos fortes e fracos, lacunas e três oportunidades”. O Labs devolveu uma tabela extensa, navegável, que eu pude percorrer horizontalmente, com colunas para cada critério. Ali, vi a virtude e o risco do novo poder: o painel impressiona pelo acabamento e pela fluidez, mas exige olho clínico para validar cada dado, cada preço e cada canal. Na prática, o ganho de tempo é brutal — a IA mastiga cem fontes enquanto você toma um café —, e a sua responsabilidade é a de sempre: auditar o que vai guiar sua estratégia. Bonito não basta; precisa estar certo.
Ao longo dos testes, fui entendendo o papel de cada modo. O Search é meu “Google com esteroides”: respostas rápidas, fontes citadas e filtros por Web, Acadêmico, Social/Finanças. O Deep Research é o mergulho de fôlego, bom para perguntas complexas que pedem contexto histórico e prós-e-contras. O Labs é o canivete suíço: delega tempo de máquina para planejar, compor, codar e devolver algo que você já consegue usar — de mapas mentais a dashboards financeiros com filtros, passando por comparativos de modelos de IA e até mini-apps com formulários. Em todos, o fio condutor é a transparência: trilha de etapas e referências para você conferir antes de tomar uma decisão.
Uma descoberta prática salvou várias tentativas: pedir ao Labs que “me entrevisse” antes de construir. Quando escrevo “adapte meu prompt para gerar um output de alto impacto; antes, faça perguntas para coletar contexto”, a IA vira consultora por alguns minutos e volta com um briefing mais rico. Parece detalhe, mas muda o jogo: quanto mais específico o pedido, melhores os ativos entregues — seja um gráfico interativo, uma planilha com filtros ou uma imagem-base bem direcionada. E quando esqueço de marcar o Labs e mando no Search por impulso, o erro é educativo: a resposta vem como texto; eu copio o prompt, marco a lâmpada e deixo o modo certo trabalhar.
Também aprendi a lidar com o relógio. O Labs estima “nove minutos” e, às vezes, muda para “quatro”, depois volta para “seis”. Não é descuido; é um gestor de tarefas que ajusta a rota conforme encontra (ou descarta) fontes e decide que tipo de ativo compensa construir. Quando o projeto termina, eu sempre abro três abas: “Aplicativo” para sentir a peça no dedo, “Ativos” para baixar o que for aproveitável e “Etapas/Fontes” para confirmar de onde veio cada afirmação. Na sequência, passo pente-fino nos números sensíveis. Se até nós erramos em planilhas caseiras, por que a IA estaria imune? A diferença é que, agora, a parte trabalhosa chega pronta — me sobra o papel nobre de validar, adaptar e decidir.
No meu fluxo, a cadência ficou assim: começo no Search quando preciso de uma visão rápida e citada. Se percebo que a pergunta puxará mais fio do que um parágrafo comporta, subo para o Deep Research. Quando a pesquisa pede um entregável acionável — uma matriz, um checklist clicável, uma visualização explorável —, abro o Labs e descrevo o destino: “quero usar isso em reunião”, “preciso imprimir”, “vou compartilhar o link”. Em poucos ciclos, parei de “navegar” e passei a “orquestrar”. É diferente acordar sabendo que seu assistente não apenas responde, mas também monta a primeira versão do que você precisa apresentar.
Terminei o dia com uma sensação curiosa de futuro próximo. A busca, sozinha, já não me satisfaz quando posso, no mesmo lugar, pedir um painel que respira conforme clico, um mapa mental que vira estudo guiado, um mood board que já conversa com o social. Ainda não é mágica — e não deve ser. Revisar continua sendo parte do trabalho, assim como calibrar o prompt e dizer “não” ao que não se sustenta. Mas a ergonomia mudou: se antes eu gastava horas para juntar pedaços, agora gasto minutos para polir uma peça inteira.
Fechei o Labs e voltei ao rascunho do dia seguinte. O título sorriu para mim da barra de busca. Não era mais sobre “achar respostas”. Era sobre construir caminhos, com fonte, contexto e forma. E, nessa estrada, o Perplexity Labs virou meu copiloto preferido.
— Chip Spark.





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