Perplexity Comet: o navegador-agente que faz por você — de cupons a planilhas, do LinkedIn à sua agenda
- Chip Spark

- 2 de out.
- 4 min de leitura
Testei o Perplexity Comet: navegador com IA que executa tarefas na web, resume vídeos, preenche planilhas e automatiza rotinas.
Instalar um navegador nunca foi um evento, até o Perplexity Comet. A Perplexity colocou cuidado até na sonoplastia da instalação e, quando a primeira aba abre, a sensação é de que a web ganhou um copiloto fixo no painel. O buscador padrão deixa de ser o Google e passa a ser o Perplexity, então perguntas triviais — tipo quando começa a Copa de 2026 — aparecem acompanhadas de sínteses com fontes, sem a peregrinação por dez links. Mas o poder real não está na busca; está no assistente que vive no atalho Alt+A e transforma abas em ações.
Foi assim que pedi “abra meu Gmail” por voz e vi a caixa de entrada saltar sem um clique.
Na sequência, soltei “verifique o status dos pedidos recentes”: o agente vasculhou mensagens, identificou compras, prazos e valores, e me devolveu um sumário pronto. A diferença não está em “responder com IA”, mas em entender a janela aberta, ler o conteúdo e encadear passos com fluidez — como quem folheia seus comprovantes sem sair da mesma mesa.

Quis medir a autonomia num caso mais espinhoso: “procure ingressos para a Tomorrowland Brasil 2025 e me leve à compra”. O Perplexity Comet mapeou o site oficial, explicou pré-registro e datas de venda, abriu a loja e parou na página de login, à espera do meu consentimento. Não entreguei senha nem cartão, claro, mas ficou evidente a coreografia: o agente caminha até onde a segurança manda e me chama para a decisão. É a cadência certa para rotinas que exigem passos humanos, sem me transformar em espectador de cliques intermináveis.
O momento “uau” veio no varejo. Escolhi uma blusa qualquer, adicionei ao carrinho e pedi: “procure cupons e teste automaticamente”. A tela ganhou um sombreado azul e, diante dos meus olhos, o agente digitou, aplicou códigos e exibiu a economia final. Quando um cupom funcionou, ele seguiu testando os demais — e eu percebi o novo normal: delegar o trabalho chato para validar o que importa. No LinkedIn, pedi um post sobre como se tornar um bom analista de dados; o Comet rascunhou, abriu a janela de publicação, colou o texto e aguardou. Preferi revisar e recusei publicar direto. A IA acelera; a responsabilidade editorial continua minha.
Com vídeos, a história é parecida. Abri um YouTube, mandei resumir e, em segundos, recebi os tópicos-chave. Copiei dois resumos, deixei ambos abertos no Drive e pedi ao Comet: “crie uma apresentação de 10 slides com base nessas duas abas”. Como as guias estavam visíveis e conectadas à conta, o agente puxou o conteúdo, estruturou os slides e eu pude ajustar a voz final. Ter as abas como “fontes vivas” muda o jogo: você deixa de copiar e colar e passa a compor.

A integração com o calendário fecha o ciclo do dia a dia. Pedi “resuma minha semana que vem e sugira blocos de foco de duas horas”; ele varreu a agenda do Google e me devolveu uma proposta de rotina, já considerando reuniões e janelas. Em outra frente, usei a ferramenta de captura de tela: selecionei uma camisa em uma foto e pedi “encontre similares para comprar”; os resultados apareceram com links plausíveis. E, quando quis catalogar notebooks do mercado, pedi primeiro que criasse uma planilha no Sheets com colunas de marca, modelo, processador, memória, armazenamento, preço e link; depois, pedi que preenchesse com dados atualizados. Entre hesitações e seleções de células, o agente normalizou o cabeçalho e começou a inserir linhas. Perfeito? Não sempre. Útil? Muito.
A casa do Comet também tem seus brinquedos. Em “Editar Widgets”, encontrei relógios, notas rápidas (um “pegajoso” curioso), atalhos e até um modo foco com trilha sonora de planeta rodopiando — ótimo para mergulhos sem distração. Criei um atalho estático para “notícias mais importantes do mundo hoje” e, com um clique, o navegador já traz a curadoria, sem abrir o assistente manualmente. É pequeno, mas soma no cotidiano.
E a pergunta que não quer calar: privacidade. O Comet pode armazenar senhas sem sincronizar com o Google e, segundo o discurso do mercado, navegar mais fundo no que fazemos para oferecer anúncios hiperpersonalizados. Não é exatamente novo — vivemos isso no Google, Instagram e LinkedIn —, mas merece olhar crítico. A regra prática continua valendo: quem precisa de privacidade máxima não a encontrará em serviços conectados. Para todos os demais, vale ler políticas, ajustar permissões, usar logins separados e entender que o ganho de conveniência anda de mãos dadas com rastreamento.
Por enquanto, durante minha avaliação, o Comet estava liberado para contas Pro, com jeitos de conseguir acesso promocional em parcerias específicas e convites limitados. No histórico do assistente, todas as interações ficam registradas: verificação de pedidos, caça a ingressos, a tal maratona de cupons. Essa trilha é útil para retomar tarefas, refazer um passo e auditar decisões do agente. Outra pista de maturidade: quando algo trava — proteção anti-scraping, formulário com CAPTCHA, rótulos que o gráfico esquece —, ele explica, pede instrução, oferece alternativas. Você continua no comando.
Saí da semana com uma sensação nítida: o Comet não compete com o Chrome só na rapidez do render, mas na filosofia. Em vez do usuário abrir abas até se perder, o navegador abre caminhos para que a IA atravesse as abas e entregue artefatos: um post, um resumo, uma planilha preenchida, uma lista de horários, um carrinho com desconto. Não é magia; é método, paciência e muito design de interação. E quando a web para de ser um monte de páginas e vira um conjunto de tarefas delegáveis, a produtividade muda de patamar.
— Chip Spark.





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