Interruptor inteligente com ou sem neutro? Testei os JWCOM ZigBee e Wi-Fi e aqui vai a verdade que ninguém te conta
- Chip Spark

- 1 de out.
- 5 min de leitura
Entenda a diferença entre interruptor inteligente com e sem neutro, prós e contras, e o que muda nos JWCOM ZigBee e Wi-Fi.
A primeira vez que abri a caixa do novo interruptor inteligente da JWCOM, eu já sabia que a dúvida viria antes do manual: dá para instalar sem neutro? Porque, vamos combinar, na maioria das casas brasileiras o neutro fica lá no teto, colado na luminária, e não desce até a caixinha de parede onde mora o interruptor. E quando a gente já está com o apartamento pronto, teto rebaixado, móveis no lugar, ninguém quer quebrar parede para puxar um fio a mais. Foi com esse dilema aceso que comecei a testar as duas versões do lançamento: o modelo de tecla física ZigBee (branco, com frente em vidro) e o Wi-Fi (preto, acabamento fosco). Ambos bivolt, ambos com 800 W por canal, ambos compatíveis com Tuya/Smart Life e assistentes por voz. A diferença real apareceu quando decidi provocar a instalação “sem neutro”.
Para quem nunca parou para pensar no assunto, o interruptor tradicional só interrompe a fase, aquele fio “quente” que vem do quadro de disjuntores. O retorno leva essa fase até a lâmpada, onde o neutro já está esperando. No mundo conectado, porém, o interruptor deixa de ser só um pedaço de plástico que abre e fecha circuito: ele vira um dispositivo eletrônico, um pequeno eletrodoméstico com cérebro, sempre ligado, ouvindo comandos do app ou da Alexa. E todo eletrodoméstico precisa de alimentação contínua — fase e neutro. Sem o azul na caixinha, a mágica precisa de truque: um capacitor interno “rouba” uma migalha de corrente pelo circuito da lâmpada para se manter vivo. Funciona? Funciona. É perfeito? Nem sempre.
O primeiro teste sem neutro foi didático. Liguei fase no L, retorno no L1, deixei o N vazio e… a lâmpada, teoricamente “desligada”, começou a brilhar levemente. O famoso “efeito fantasma”. Com lâmpadas de LED muito econômicas — 3 W, 5 W — a chance de aparecer esse rastro é maior, porque qualquer vazamento mínimo já é luz visível. Em potências a partir de 9 ou 10 W, costuma melhorar. Ainda assim, aquele brilho tênue pode incomodar. Em outro ponto da casa, replicando a instalação real, tive um resultado bem mais promissor: nada de piscar, nada de fantasma, tudo sólido. Foi ali que ficou claro o que os catálogos não contam: o comportamento sem neutro depende do conjunto inteiro — modelo da lâmpada, qualidade do driver, fiação, distância, até a presença de outras cargas no mesmo circuito.
Quando trouxe o neutro do teto e conectei no borne N do interruptor, a história mudou de patamar. O acionamento ficou instantâneo, silencioso, sem resquícios de iluminação fora de hora. O “com neutro” é o mundo ideal da automação: alimentação dedicada para a eletrônica, relé trabalhando folgado e LED apagado quando tem que apagar. Se você tem como puxar o fio azul, a minha recomendação é direta. Mas se não tem, ou se o trecho é impossível de passar conduíte, a opção sem neutro existe para te salvar — com a ressalva de testar com a sua lâmpada real e, se preciso, considerar um resistor/antiflicker compatível indicado pelo fabricante.
No quesito conectividade, os dois JWCOM se comportaram como prometido. O ZigBee entrou na rede via hub (usei um gateway M1 compatível), emparelhamento mantendo o padrão de segurar a tecla até a luz piscar. A vantagem aqui é aquela robustez típica do ZigBee: malha dedicada, baixa latência e independência do Wi-Fi da casa. O Wi-Fi, por sua vez, foi plug-and-play: segurei a tecla, conectei à rede 2,4 GHz, coloquei a senha e pronto. Em ambos, o Smart Life/Tuya reconheceu de primeira, com direito a renomear, agrupar e acionar remotamente. A Alexa apareceu pedindo para adicionar o dispositivo assim que o app confirmou a inclusão. “Liga JW teste”, “desliga JW teste”: resposta suave, sem drama.
No dia a dia, pequenos detalhes contam. A luz de posição (backlight) azul acende quando o circuito está ligado e some quando está desligado; no app dá para desativar a luz, se você for do time que prefere total escuridão no quarto. Outro mimo útil é o “estado após queda de energia”: escolhi “permanecer desligado” para evitar surpresas em uma madrugada de retorno da concessionária. O modo “pulso” — que o app chama de inching — transforma o toque em um acionamento temporizado: liga e desliga sozinho após alguns segundos. Perfeito para campainha, travas, exaustores e aquele ventilador que você quer só por um minuto.
Um recurso que sempre peço e quase nunca encontro direito veio redondo: a associação de controles múltiplos. Pense num “paralelo virtual”: dois (ou mais) interruptores diferentes comandando a mesma luminária, sem precisar esticar fio entre eles. Dentro do Tuya/Smart Life, você vincula quem manda em quem e leva o conceito de três-vias para o século XXI: corredor, escada, quarto com duas portas — todos agradecem. E o melhor: mesmo se o Wi-Fi cair, a tecla física continua funcionando; no ZigBee, a rede mesh geralmente se reorganiza e segue o baile.
No balanço das versões, o ZigBee branco, com frente em vidro temperado, passa uma sensação premium e se integra melhor quando você já tem outros dispositivos ZigBee em casa, do sensor de presença ao dimmer. O Wi-Fi preto, fosco, é democrático: dispensa hub, entra no roteador e resolve em minutos — desde que seu Wi-Fi seja confiável. Em casas grandes, roteadores com Mesh fazem diferença para evitar latência no comando por voz. Em ambos, o limite de 800 W por canal é mais do que suficiente para iluminação residencial comum, mas é sempre prudente somar potências e respeitar margens.
Se eu pudesse resumir a experiência em uma conversa de corredor, diria que o “sem neutro” é a ponte para quem não pode quebrar nada, e o “com neutro” é a avenida expressa para quem quer o melhor comportamento possível. O JWCOM, nas duas frentes, entrega bem: instalação objetiva, aplicativo limpo, integração sólida com Tuya/Smart Life e Alexa, materiais condizentes e aquele conjunto de ajustes que mostra cuidado com o uso real. A única recomendação que repito como mantra é testar com as suas lâmpadas, no seu circuito. Automação é elétrica aplicada à vida, e a vida real sempre tem seus caprichos.
No final da noite, desliguei os spots da sala pelo comando de voz, fechei a varanda no toque da tecla e fiquei olhando o backlight desaparecer. Numa casa inteligente, o que parece invisível é justamente o que faz diferença: a decisão entre puxar um neutro agora ou conviver com um capacitor esperto; o protocolo que conversa melhor com o seu ecossistema; o ajuste escondido que salva você às três da manhã. E é aí que um bom interruptor brilha — exatamente quando a luz apaga.
— Chip Spark.












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