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Empreender na era da IA-tsunami: como não ser sucatizado e virar protagonista até 2030

A não é hype: é tsunami. Como empreender com IA, manter relevância e ganhar eficiência, rumo a 2030.


A sala estava cheia de gente boa e opiniões afiadas, mas o ar tinha aquela tensão que só aparece quando um assunto deixa de ser tendência para virar sobrevivência. A pergunta não era se a inteligência artificial vai mudar o jogo; era se dá tempo de redesenhar o tabuleiro enquanto as peças já estão se movendo. Eu respirei fundo e notei um padrão: quem falava de “hype” parecia preso ao passado; quem falava de “tsunami” já estava olhando a maré subir pelas laterais do negócio.

Empreender na era da IA
Empreender na era da IA

Há vinte anos, a internet parecia bonita e meio distante; dez anos depois, as redes sociais drenavam horas e orçamentos; há dois, o metaverso ensaiou um passo. A IA entra por outra porta: chega com impacto, abrangência e velocidade ao mesmo tempo. Não é uma onda que você surfa no fim de semana; é um regime de maré permanente. Quando um atendimento que exigia 200 pessoas passa a caber em 20, não estamos mais debatendo futurologia. Estamos recalculando P&L, redefinindo escopo de cargos e descobrindo que “não contratar” virou a nova eficiência silenciosa.

Só que eficiência sem critério é armadilha. A história recente mostra empresas demitindo em massa e voltando atrás quando percebem que cortar músculo junto com gordura cobra um preço em satisfação e receita. O caminho que tem funcionado é menos glamouroso e mais operacional: colocar IA como escada, não como muleta. Em vez de decretos grandiosos, pilotos graduais; em vez de “IA em tudo”, “IA onde dói e mede”. A tríade que me guia é simples: tempo de resolução, custo por transação e satisfação do cliente. Se dois deles sobem, volto, ajusto prompts, reorquestro automações e só então avanço no quadro de vagas.

No coração dessa transição está a gestão do conhecimento. Muita empresa jura que sua propriedade intelectual é a marca, a patente, o domínio. A verdade é menos romântica: IP é playbook — como você vende, precifica, atende, decide. Esse saber costuma morar em PDFs órfãos, wikis esquecidas e cabeças sobrecarregadas. IA generativa, quando bem alimentada, vira embreagem entre o que a empresa sabe e o ponto onde o trabalho acontece. Um vendedor que recebe o script certo em linguagem natural no momento certo sobe a curva de ramp-up em semanas, não meses. Um agente com baixa latência que consulta sua base reduz fila de chamados enquanto mantém o tom de marca. E o RH, não o TI, precisa virar dono desse arranjo: gente + máquina é CHX — capital humano expandido.

É aqui que entra a tal “sucata”. O que se desvaloriza não é a profissão em si, é o pedaço repetitivo, de baixa barreira e contexto raso. Transcrição manual? Já foi. Copy genérico? Em contagem regressiva. Se você cobra por volume de clique, não por insight, a IA aperta. A saída é movida a contexto e curadoria: quanto mais você traz repertório, restrições reais, dados do negócio e critérios de qualidade, mais o modelo rende e menos substituível você fica. É contraintuitivo, mas hoje um bom engenheiro, designer ou redator vale mais porque, com IA, entrega em dias o que antes levava semanas — e com consistência de sistema, não lampejo de sorte.

Apesar disso, não romantizo. Haverá contração setorial onde voz com latência baixa e acurácia suficiente fizer estrago em call centers; haverá queda de ticket onde o cliente final aprender a resolver sozinho. As boas notícias surgem em paralelo: pequenas empresas ganham alavancagem inédita. Uma equipe de duas pessoas, AI-first, atende com qualidade que antes exigia um batalhão. O jogo mudou de “quem tem mais CAPEX” para “quem aprende mais rápido, improvisa leve e mede melhor”. Nesse tabuleiro, compliance continua vital, mas precisa encontrar o ponto ótimo com velocidade — o “sim, e…” que separa os que vencem dos que congelam.

Se eu tivesse que condensar o que funciona, diria que começa por letramento prático: todo mundo usando IA no micro, todos os dias, até virar eletricidade — você para de contar quantas vezes ligou a luz. Em seguida, casos de uso que respeitam a esteira completa: IA não só no “escreva” final, mas na decisão, no planejamento, no brainstorming, no QA. Depois, agentes orquestrados: pequenos “funcionários virtuais” com tarefas delimitadas, guardrails e métricas claras, somando-se a times humanos que sabem o que delegar e o que abraçar. E, por fim, ofertas que sobem a barreira de entrada: não “faço site”, mas “site em 7 dias com SEO local, formulário de triagem e automação de pós-venda”; não “slides”, mas “deck com narrativa, handout, versão 16:9 e 9:16 e roteiro para webinar”.

Quando penso em 2030, não imagino Jetsons, imagino assimetria. Curiosos contra descuriosos; leves contra pesados. A forma do mundo pode parecer a mesma, mas a essência muda: inteligência vira commodity escalonável, comprada por API; o diferencial passa a ser humano: empatia, julgamento, ética, repertório. Se a IA analisa milhões de exames em minutos, o médico que olha no olho volta a ser premium. Se um agente fecha tickets às três da manhã, o gerente que desenha a jornada e acolhe a exceção vira indispensável. O futuro não é “IA no nosso lugar”, é “IA ao nosso lado” — e esse lado é decidido por nós.

No fim do encontro, saí com uma certeza incômoda e animadora: a curva J é real — primeiro dói, depois acelera. A única barreira que importa é a mental. Quem esperar certezas perfeitas vai enxergar a solução quando o problema já tiver mudado de forma. Eu prefiro outro verbo: improvisar. Com dados, com método e com pressa tranquila. A IA já provou que encurta a distância entre ideia e execução. Cabe a nós reduzir a distância entre intenção e atitude.


— Chip Spark.

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