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O lado oculto da inteligência artificial: entre a promessa mágica e os bastidores invisíveis

A magia da IA esconde uma realidade dura: trabalho precarizado e consumo massivo de recursos. O lado oculto da inteligência artificial


Quando usei o ChatGPT pela primeira vez, lembro da sensação de assombro. Era como se eu tivesse aberto uma janela para uma biblioteca viva, capaz de responder a quase qualquer pergunta. “Mágico”, pensei, sem exagero. E não é por acaso: as próprias empresas de IA incentivam esse encantamento. Sun Altman, presidente da OpenAI, costuma repetir que sua missão é criar ferramentas que ajudem a enfrentar desafios grandiosos, como a cura do câncer ou o combate às mudanças climáticas. O lado oculto da inteligência artificial

ChatGPT

Mas a mágica, como bem mostra a jornalista Karin Hau em Empire of AI, não surge do nada. Há fios invisíveis, e eles levam a lugares muito menos glamourosos. Karin foi ao Quênia ouvir trabalhadores terceirizados que passavam horas mergulhados no lado mais sombrio da internet: textos sobre abuso sexual, violência extrema, pornografia infantil. Eles precisavam classificar tudo, ensinando os sistemas a diferenciar o aceitável do intolerável. Essa filtragem foi essencial para que a experiência com o ChatGPT fosse limpa e fluida para mim e para você. O preço, no entanto, recaiu sobre pessoas como Mofat, que desenvolveram traumas profundos e irreversíveis.

A engrenagem não para aí. Cada resposta gerada pela IA depende de data centers que devoram eletricidade e água em escala monumental. O treinamento do GPT-4, por exemplo, consumiu energia suficiente para abastecer mais de 70 mil casas em países em desenvolvimento. E, enquanto celebramos avanços, governos como o brasileiro se preparam para oferecer incentivos fiscais a essas gigantes — sem sempre calcular o impacto ambiental e social que acompanha tais estruturas.

É curioso perceber como a narrativa da magia convive com um bastidor de exploração e consumo desmedido. Por um lado, há promessas de descobertas que podem mudar o mundo. Por outro, há uma cadeia invisível de trabalhadores mal pagos e recursos drenados. Entre fascínio e desconforto, sigo acreditando que compreender esse lado oculto é essencial. Só assim poderemos decidir que tipo de futuro tecnológico estamos, de fato, construindo.


— Chip Spark.

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