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Apertus: a aposta da Suíça em uma IA aberta, ética e feita para todos

Atualizado: 12 de set.

Suíça lança o Apertus, modelo de IA aberto e transparente, criado para ser alternativa ética aos gigantes da tecnologia.


Apertus IA
Apertus IA

A Suíça decidiu colocar seu nome de vez no mapa da inteligência artificial global. Batizado em latim como Apertus, que significa “aberto”, o novo modelo de IA carrega não apenas um nome poético, mas uma filosofia clara: oferecer ao mundo uma alternativa transparente, confiável e livre das amarras corporativas que hoje dominam a cena.

O projeto nasceu da união de forças entre a EPFL, a ETH Zurich e o Centro Nacional Suíço de Supercomputação, e foi desenhado como uma verdadeira obra pública. Tudo nele respira abertura: código-fonte, pesos do modelo, documentação e até os dados usados no treinamento estão disponíveis de forma acessível. Nada de caixas-pretas, nada de contratos escondidos. A ideia é que qualquer desenvolvedor, pesquisador ou empresa possa mergulhar no Apertus sem pedir licença a ninguém.

Os números impressionam. Foram processados cerca de 15 trilhões de tokens, cobrindo mais de mil idiomas, com especial atenção às línguas que quase nunca aparecem nos datasets tradicionais — Swiss German, Romansh e dezenas de outros idiomas regionais ganharam espaço em pé de igualdade. É um gesto que parece técnico, mas que carrega algo maior: uma afirmação cultural de que a IA deve ser inclusiva e refletir a diversidade do mundo real.

A equipe responsável lançou duas versões distintas. Uma menor, com 8 bilhões de parâmetros, perfeita para quem precisa de algo ágil, acessível e de fácil experimentação em ambientes com menos poder computacional. E uma gigante, com 70 bilhões de parâmetros, voltada para universidades, centros de pesquisa e empresas que desejam explorar aplicações mais pesadas. Essa dualidade já mostra o quanto o Apertus foi pensado para ser útil tanto ao estudante curioso quanto a uma instituição financeira em busca de soberania tecnológica.

Aliás, foi justamente o setor financeiro suíço um dos primeiros a enxergar o valor estratégico do Apertus. A Associação Suíça de Banqueiros destacou que um modelo treinado dentro das regras nacionais, respeitando a legislação local e a proteção de dados, transmite muito mais confiança do que depender de soluções importadas. Para um país conhecido por sua tradição de sigilo e confiabilidade, isso soa quase natural.

E não foi apenas a precisão técnica que chamou atenção. O Apertus foi treinado com extremo cuidado ético: textos protegidos por direitos autorais ficaram de fora, pedidos de exclusão foram respeitados e cada detalhe foi ajustado para seguir as rígidas normas da União Europeia e da Suíça em relação a dados e inteligência artificial. É uma postura rara em um mercado onde a pressa por lançar modelos muitas vezes atropela preocupações éticas.

Para quem já quer colocar as mãos no modelo, a boa notícia é que ele está disponível com poucos cliques. O Hugging Face hospeda as versões do Apertus, enquanto no cenário suíço a Swisscom integra o modelo em serviços locais. Além disso, iniciativas como a Public AI Inference Utility, liderada por Joshua Tan, defendem que modelos assim devem ser tratados como infraestrutura essencial — tão importantes quanto rodovias ou sistemas de energia.

Durante eventos como as Swiss {ai} Weeks, desenvolvedores poderão brincar com interfaces simplificadas para testar, avaliar e até desafiar os limites do Apertus. É nessa interação coletiva que o projeto deve encontrar seu verdadeiro potencial, não apenas como ferramenta, mas como catalisador de uma comunidade global em torno da IA aberta.

Especialistas não pouparam elogios. Leandro von Werra, pesquisador do Hugging Face, descreveu o Apertus como “um dos modelos open-source mais ambiciosos até hoje”. E Martin Jaggi, professor da EPFL, vê nele a chance de estabelecer um padrão global para IA confiável, soberana e inclusiva. O entusiasmo não parece exagerado: mesmo sem competir diretamente em força bruta com gigantes como ChatGPT ou Llama 3, o Apertus já se destaca pelo diferencial ético e pela transparência radical.

É difícil não sentir um certo frescor ao observar esse movimento. Enquanto o mercado global discute concentração de poder e riscos de monopólio, a Suíça oferece um lembrete de que a inteligência artificial também pode ser construída como bem público, acessível e compartilhado. No mínimo, o Apertus inaugura uma nova narrativa: a de que é possível fazer IA poderosa sem abrir mão da ética, da diversidade e da transparência.

Se a história vai provar que esse modelo vai escalar globalmente, ainda é cedo para dizer. Mas uma coisa já parece clara: em um mundo onde confiança digital é cada vez mais rara, a Suíça pode ter encontrado seu novo produto de exportação — não ouro, não chocolate, mas inteligência artificial aberta.



— Chip Spark.

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